quarta-feira, 22 de abril de 2015

Na Pátria Educadora, Professores Abandonam a Docência.

 
Edição do dia 02/02/2015
02/02/2015 21h39 - Atualizado em 09/02/2015 14h44

Aumenta o número de professores que abandonam as salas de aula.

Série especial mostra a atual situação dos professores no Brasil.
Déficit chega a 150 mil. Maioria troca salas de aula por outros empregos.

O Jornal Nacional começa a apresentar nesta segunda-feira (02), uma série especial de reportagens sobre a situação dos professores no Brasil.
É uma profissão que todo mundo elogia, todo mundo concorda que é fundamental, mas que tem despertado o interesse de um número cada vez menor de brasileiros. Os motivos disso estão em discussão na reportagem da Graziela Azevedo e do Ronaldo de Sousa.
O Brasil tem uma necessidade urgente na escola. O país tem uma promessa: "Nosso lema será: Brasil pátria educadora”, afirmou a presidente Dilma Rousseff no discurso de posse.
E um grande desafio: “O apagão já começou há muito tempo. O déficit de professores nas áreas de química, física, matemática e biologia é da ordem de 150 mil professores” conta o diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos.
“Eu fiquei dois anos sem professor de matemática. Na 5° e na 6° série. Então até hoje eu tenho muita dificuldade”, conta a estudante Larissa Souza.
“Fiquei trocando de professor de história na 8° série cinco vezes”, reclama um aluno.
Aqueles que poderiam ser futuros professores também estão sumindo dos cursos universitários de formação.
Acontece nas faculdades particulares: “Na licenciatura de pedagogia, sempre no primeiro semestre é lotada. São 60, quase 70 alunos e vai diminuindo. O pessoal do 6°semestre, nós temos 10 alunos”, explica Carolina Gato, estudante de Matemática e Pedagogia.
Nas universidades públicas a desistência também é notória: “Porque as lacunas começam a aparecer, então coisas que deveriam ter aprendido no ensino médio não aprenderam e aí chega na hora da prova tira zero, tira 2 na prova. Vira uma bola de neve e abandona o curso”, conta Rebeca Omelczuck, estudante de Física.
Mas e quem ficou? Como estão os professores que levaram seus cursos até o fim e estão encarando as salas de aula?
É o que o Ministério Público quer descobrir. Em Novo Gama, município pobre e vizinho à Brasília, as promotoras de justiça mobilizaram mães, pais, servidores públicos e conselheiros da cidade para obter respostas.   
A auditoria cívica é o nome que o Ministério Público deu para o trabalho dos cidadãos que querem melhorar a educação na sua comunidade. Um trabalho que ao Jornal Nacional acompanhou.
Trazendo questionários e vontade de conhecer melhor as escolas públicas, eles se espalham. Parte da tarefa é conversar com os professores. As carências vão aparecendo.
“Falta tudo. Igual folha para tirar cópia para a prova, por exemplo. A gente tem que pedir para os meninos, tem que ir comprar. Chove e a sala fica praticamente alagada”, conta a professora Marta Costa Alves.
Uma realidade tão dolorida que as palavras começam a vir acompanhadas de lágrimas.
Marta Giovana Costa Alves, professora: Quando me deparei em uma sala de aula e vi as dificuldades ali eu não queria estar mais ali.
Jornal Nacional: Você se sente sozinha?
Marta: Nossa.
Assim, à flor da pele, a professora confessa não se sentir mais um modelo para os seus alunos.
Marta: A criança tem que olhar pra mim e ver em mim futuros, sonhos. E eu acredito que as crianças não estão conseguindo ver no professor mais isso.
Jornal Nacional: O que elas veem?
Marta: Um professor cansado, desmotivado, triste.
A entrevistadora, que também é professora, desaba junto.
Jornal Nacional: E a senhora chora por que?
Pesquisadora: Porque são 23 anos, quase aposentando, e as palavras dela são as minhas
Depois da entrevista, a professora Marta enxugou as lágrimas e voltou para a sala de aula, mas muita gente que se forma nem chega a entrar em uma. A desvalorização da profissão é o grande motivo. Para ganhar mais com menos estresse, os professores acabam fora das escolas.
A conclusão é de um pesquisador que cruzou os dados de vagas oferecidas e docentes formados ao longo de duas décadas. O levantamento mostrou que, com exceção da disciplina de Física, o número de docentes formados daria para atender a demanda no país.
“Não faltam professores formados então o que está acontecendo é que essas pessoas se formam e ou não ingressam na profissão ou ingressam e se desestimulam e saem. Enquanto um professor formado em nível superior ganhar metade do que ganha um economista, do que ganha um advogado, do que ganha um jornalista, quer dizer, não tem como atrair a pessoa para a profissão”, afirma o pesquisador da USP Marcelino de Rezende Pinto.
Para o novo ministro da Educação a valorização do professor passa por aumento de salário.
“Se você não tiver salários com perspectiva de aumento de salário, você não vai ter as melhores vocações se dedicando ou escolhendo o magistério como sua profissão”, conclui o ministro da Educação Cid Gomes.
O piso da categoria para 40 horas por semana, passou este ano de R$ 1.617 para R$ 1.917. Mas, para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, deveria ser de pelo menos R$ 2.900. Sem falar que nem todos os estados pagam o que a lei determina.

O resultado é o abandono da profissão. Oferta de emprego em empresas e bancos não falta.
“Eles vivem batendo na sua porta, oferecendo salários muito atraentes e que acabam levando muitos colegas da física para outras áreas”, conta o estudante de Física Carlos Otobone.

Mas é na sala de aula que os bons professores precisam estar. Disso ninguém tem dúvida.
“Temos que pensar de fato em uma política integrada que tem como elemento central o professor porque o pessoal discorda de tudo, mas há um consenso: o professor faz a diferença”, diz Marcelino.



http://observacoeseducacionais.blogspot.com.br/2015/02/caos-na-educacao-estadual-do-rj-se.html

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Educação

terça-feira 14 de julho de 2015 | Edição do dia
EDUCAÇÃO

Jornada extra de trabalho é realidade para mais de 40% dos professores no país




Com o título “Quatro em dez professores fazem jornada extra para compor renda”, o jornal Folha de São Paulo, em reportagem do dia 30/06, nos mostrou que, “no país, 41% dos docentes da rede básica têm atividades complementares dentro e fora da educação”. [1]
A reportagem coligiu dados de um questionário nacional respondido por 225 mil professoras e professores dos anos finais do ensino fundamental (5o ao 9o ano) de diversas redes públicas, estaduais e municipais.
A reportagem nos mostra diferentes formas que os professores encontram para complementar a renda. Desde um professor de história/vendedor de roupas e sapatos em Teresina, PI, até uma professora de matemática/manicure do interior do Maranhão, passando pela professora que trabalha três turnos na educação de Belo Horizonte. A realidade é nacional, embora comporte importantes variações.
Segundo a reportagem, “em 16 estados o índice supera a média nacional. Rio Grande do Norte (55%) e Roraima (54%) lideram. Na outra ponta, estão Tocantins e Distrito Federal, com 22% e 12%, respectivamente”. O Estado de São Paulo se encontra na média nacional, com 41% de seus professores fazendo jornada extra.
Uma reportagem publicada no portal G1 do dia 25/06 pode nos dar pistas para entender essa situação. Sob a chamada de “Professor estadual com licenciatura ganha em média R$16,95 por hora”, a reportagem compara os salários-base de professores do Ensino Médio das redes estaduais do país. [2]
Não é apenas coincidência que os dois estados com menores índices de jornada extra figurem entre os três com melhores salário-base.
Mas não é só isso que chama atenção: dos 26 estados mais o Distrito Federal, 40% não estabelecem a jornada de 40 horas como base, podendo variar de 16, 20, 24, 25 ou 30 horas semanais, estabelecendo, então, jornadas de trabalho em tempo parcial.
Devemos lembrar que a Lei 11.738/2008, que estabelece o piso salarial profissional para os professores da educação básica pública, tem como parâmetro, para a remuneração mínima, a jornada semanal de 40 horas semanais, hoje fixada em R$ 1.917,78. Assim, uma jornada parcial pode significar um salário parcial.
Nos diz a reportagem que “considerando a carga horária de 40 horas semanais de trabalho, o salário-base é de R$ 2.711,48 para professores com diploma de licenciatura no início da carreira”. E segue a reportagem: “Em média, o professor da rede pública estadual formado em licenciatura (ou seja, com diploma de ensino superior), recebe 57% do salário dos trabalhadores brasileiros com formação equivalente. Segundo uma comparação feita pelo Cadastro Central de Empresas (Cempre) com base de dados de 2013, e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o salário médio de trabalhadores com diploma de nível superior foi de R$ 4.726,21”.
Um levantamento feito por economistas ligados ao Banco Mundial, à agência das Nações Unidas e da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostra que as professoras e professores de ensino fundamental no Brasil têm renda média abaixo do Produto Interno Bruto (PIB) per capita nacional. [3]
Segundo a OCDE, os professores das escolas públicas brasileiras recebem bem menos que a média dos países desenvolvidos. De 34 países pesquisados, o Brasil se encontra na penúltima posição, ficando à frente apenas da Indonésia. Com dados de 2012, esse estudo mostra que um professor que inicia no magistério público no Brasil recebe, em média, US$ 10.375,00 anuais. Entre os países membros da OCDE, a média salarial era de US$ 29.411,00 anuais
O problema é que a baixa remuneração é uma pressão para o aumento indiscriminado da jornada de trabalho, seja em atividades na própria educação ou em outras atividades, como mostrou a reportagem da Folha de São Paulo.
Não à toa, o professores brasileiros são os que têm a maior jornada de trabalho em sala de aula, segundo pesquisa internacional realizada pela OCDE. Segundo essa pesquisa, que comparou 30 países, a carga de trabalho média em sala de aula dos professores brasileiros é 6 horas superior à jornada laboral média dos demais países pesquisados. Se levarmos em conta apenas os professores que responderam estar em tempo integral na escola, esse número sobe para 10 horas. [4]
Sabemos que a educação básica pública concentra 82,8% das matrículas no país, segundo o Censo Escolar de 2013. Assim, a grande maioria dos professores trabalham para o Estado, em seus diversos níveis, e também cumprem suas jornadas extras em instituições públicas.
É interessante como a própria Constituição Federal de 1.988 normatiza esse mais trabalho. No seu artigo 37, inciso XVI, lemos que é vedada a acumulação remunerada de dois cargos públicos, exceto quando houver compatibilidade de horários, para professores e profissionais da saúde.
Assim, quando a Constuição Federal permite a “acumulação remunerada de dois cargos públicos”, sem limitação legal da jornada de trabalho total, ela acaba por incentivar o aumento indiscriminado da jornada de trabalho dos profissionais da educação e da saúde, sempre vendidos como as prioridades nacionais.
Para se ter um exemplo, no estado de São Paulo, a jornada legal máxima de um professor da rede estadual é de 65 horas de trabalho semanal, podendo se dar tanto por acúmulo de cargos (concursados) ou por contrato de trabalho como temporário.
Sabemos também que grande parte das redes municipais estabelecem a jornada de trabalho docente em 30 horas semanais. Além do fato de muitas delas não cumprirem ainda o disposto na Lei do Piso no que se refere à remuneração mínima (para não falar na composição da jornada), mesmo uma rede que cumpra a Lei poderá pagar apenas 75% do piso salarial, já que o piso é instituído para uma jornada de 40 horas.
Dessa forma, a única saída é “dobrar a jornada” assumindo outro cargo. Mas como a jornada é de 30 horas, dobrar a jornada significa passar a trabalhar 60 horas semanais.
Assim, a despeito de a Constituição Federal de 1988 ter determinado, em seu artigo 7o, inciso XIII, a “duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais”, vemos que os professores das redes públicas figuram como uma famigerada exceção, pelo “benefício” da “acumulação remunerada de cargos” sem nenhuma limitação legal para a duração da jornada de trabalho.
Mas é claro que aqui um problema alimenta o outro: a baixa remuneração faz da “jornada extra para compor renda” uma necessidade. Seja nas lojas, nos salões ou nas próprias escolas, essa já é a realidade de 41% dos professores de educação básica no país.
Agora dá para entender porquê uma onda de greves de professores da educação pública varreu o país?

Link : http://esquerdadiario.com/Jornada-extra-de-trabalho-e-realidade-para-mais-de-40-dos-professores-no-pais

[1] http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/224443-quatro-em-dez-professores-fazem-jornada-extra-para-compor-renda.shtml
[2] http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/06/professor-estadual-com-licenciatura-ganha-em-media-r-1695-por-hora.html
[3] http://www.informativo.com.br/site/noticia/visualizar/id/57874/?Pesquisa-comprova-baixo-salario-do-professor-brasileiro.html
[4] http://www.oecd.org/edu/school/talis.htm






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