"Milagres” estatísticos na educação do RJ"
No RJ, o economista Wilson Risolia, que responde pela Secretaria de Estado de Educação, alardeia o salto dado pela rede fluminense no ranking nacional do IDEB, saindo de 26º em 2010 para 4º em 2014. Aparentemente, seria uma mudança radical. Quem recebe esta notícia sem conhecer a realidade do ensino público no RJ pode até ficar deslumbrado. Risolia cai nas graças do mundo empresarial: é o novo queridinho da mídia, apresentado como tecnocrata competente.
Contudo, para quem vive o cotidiano da educação na ponta como eu, que sou professor da rede estadual, trabalhei em três escolas do estado nos últimos dois anos e visitei dezenas de unidades para conversar com os profissionais, sinceramente, o que se vê melhorar é a capacidade do secretário em manipular os números e varrer os problemas para debaixo do tapete.
O Programa Autonomia, por exemplo, aplicado em parceria com a Fundação Roberto Marinho, retira alunos que não se enquadram na dinâmica das turmas regulares e os coloca para assistir TV com apenas um professor que fica responsável por todas as disciplinas. Portanto, o produto final, ou seja, as notas mais altas, esconde o processo que está por trás. Uma análise semelhante pode ser feita em relação à remuneração variável. Como os professores são mal remunerados e sabem que as bonificações dependem dos resultados, cria-se uma espécie de aprovação automática disfarçada.
Fala-se até mesmo em casos de divulgação de gabaritos antes nas provas externas. Ouvi relatos de que alunos considerados “fracos” são estimulados a faltar nos exames padronizados. Isto é, a meritocracia na educação combina com a fraude. Não sou o único que pensa assim. Leiam por exemplo o artigo de Mateus Prado, que não é nenhum sindicalista. E fica a pergunta: será que não é isso mesmo que querem os ditos gestores? Bater metas, aumentar índices, não importando como.
Fonte: http://professorcaioandrade.wordpress.com/2014/10/22/milagres-estatisticos-na-educacao-do-rj/