O baixo rendimento, observado em escolas públicas da periferia, tem
entre outras causas essa guerra constante que violenta as nossas
crianças e os nossos jovens.
A educação está sendo afetada pela questão da segurança pública.
Até quando as nossas autoridades, vão ignorar que sem os direitos
básicos da população garantidos, nenhuma política educacional vai
funcionar a contento?
Sou professora e trabalho na periferia, eu
sinto no meu cotidiano os efeitos perversos da falta de segurança
pública nos boicotando em sala de aula. Tiroteios, o som da explosão de
granadas, sirenes de viaturas e o ronco dos helicópteros fazem parte da
trilha sonora incidental que acompanha o nosso trabalho.
Só que
isso, para os alunos é constante.Durante a noite os estudantes são
impedidos de dormir, durante o dia aulas são interrompidas por causa dos
tiroteios, o medo e a depressão causada pelas mortes diárias, também
afetam o seu aprendizado. Assim não é possível se viver e aprender.
Já virou rotina chegar à escola acompanhada pela trilha sonora,
infernal, produzida pelos voos dos helicópteros da polícia militar e
saudar os colegas na sala dos professores com um sonoro "BOM DIA
VIETNÃ!!!!
E sabe quem as autoridades, com a cara mais deslavada do
mundo, responsabiliza pelo baixo rendimento???? Acertou!!!! Somos nós o
professores ...
Segue abaixo texto produzido publicado pelo
COLETIVO VINHETANDO, publicado no Facebook, sobre a realidade dos
estudantes da periferia do Rio de Janeiro:
NOITES EM CLARO NA MARÉ
Por coletivo Vinhetando
Passa da meia-noite. enquanto boa parte da cidade adormece ou sonha, na
divisa entre as favelas baixa do sapateiro e nova holanda, o som dos
tiros violenta a noite de uma jovem de 16 anos - e de toda a sua
comunidade.
"olha como tá aqui", comenta a menina pelo whatsapp, ao
compartilhar um arquivo de áudio, com o som alto dos pipocos e rajadas,
bem próximo à sua casa. "tenho aula hoje, mas não consigo dormir".
Seriam tiros de traficantes ou de soldados? naqueles instantes, ela
avaliou que eram de soldados. mas eles tem vindo de todos os lados.
ontem de manhã, duas pessoas perderam suas vidas, sendo uma delas um
menino de 15 anos, em confrontos entre traficantes e soldados, e entre
quadrilhas rivais, em locais distintos das comunidades.
"Os
exércitos acabaram de entrar na minha casa e também na laje", comentou
num chat de facebook um menino de 14 anos, enquanto ouvia os tiros
disparados pelos soldados.
"Eu oro pra que aqui não tenha aquelas
guerras de antes, porque nós aqui em casa sofríamos à beça", observou
uma jovem de 18 anos, também moradora de uma área próxima à "faixa de
Gaza" entre comando vermelho e terceiro comando puro (tcp). "Pelo visto é
bom aproveitar por enquanto porque estão contados os dias pra voltar
tudo outra vez", completou a jovem, temendo novos conflitos entre
facções.
nas últimas semanas, além dos rotineiros confrontos entre
soldados do exército e traficantes, tanto nas áreas ainda dominadas pelo
cv quanto nas áreas do tcp, uma guerra entre este último e a facção
amigos dos amigos se instaurou na região da vila do João. relatos de
moradores indicam que traficantes do complexo do caju estariam tentando
tomar as bocas dos antigos aliados do tcp.
sem falar nas frequentes
"guerrinhas" marcadas por adolescentes inimigos do cv e do tcp, na qual
adolescentes duelam a paus e pedras, em territórios híbridos da faixa de
Gaza, hoje patrulhada pelo exército, mas ainda um terreno de conflito.
com hora e data marcada, esses meninos doam a disposição e o sangue em
conflitos que já terminaram com feridos e até mortos. em seus celulares,
esta semana, jovens exibiam como um prêmio um vídeo de um adolescente
de outra facção, capturado e torturado, obrigado a dizer que amava um
traficante inimigo, com o rosto todo machucado e um olhar desesperado,
transparecendo o medo da morte.
nesse emaranhado de domínios
armados, sobrevivem 130 mil indivíduos, sob a incerteza da paz. os
rearranjos do tráfico pela cidade levaram os traficantes a se armarem
novamente, em plena luz do dia, na iminência para reagirem aos inimigos,
sejam eles os "alemão" ou os "periquitos verdes", como foram apelidados
os soldados.
Veja também:
http://g1.globo.com/…/alunos-de-projeto-na-mare-se-jogam-no…
Crianças se protegem durante tiroteio em projeto social da Maré - Yvonne Bezerra de Melo / Divulgação
http://oglobo.globo.com/…/tiroteio-no-complexo-da-mare-deix…
Postado por Graça Aguiar quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Fonte :
http://soseducaopblica.blogspot.com.br/